LEITURAS FEMINISTAS NO ÁGORA TEATRO 2019 SEGUNDO SEMESTRE
Em agosto de 2019, o Ágora Teatro inaugura Leituras Feministas, um projeto de leitura compartilhada e discussão crítica de livros centrais para os debates feministas contemporâneos.
Leituras Feministas é coordenado por Yara Frateschi, professora livre docente do Departamento de Filosofia da Unicamp.
SOBRE O CURSO
Cada ciclo, de três encontros, tem como eixo um livro a ser contextualizado historicamente e analisado a partir das suas teses estruturais, das alianças que privilegia, das críticas que sustenta e das contendas feministas que fomenta. Queremos, da maneira mais plural e interseccional possível, exercitar a arte da leitura compartilhada, que aborda um livro a partir de diferentes pontos de vista, experiências, vivências, demandas e repertórios.
Em um país brutalmente marcado pela pobreza, pelo racismo, pelo sexismo e pela LGBTQIA+fobia, as práticas e teorias feministas que nos interessam são interseccionais. Dois pressupostos nos orientam: o feminismo é, antes de tudo, uma luta contra a opressão das mulheres, de todas as mulheres; o feminismo não é uma luta apenas das mulheres, mas de todos nós, comprometidos com um mundo livre da violência vinculada ao gênero na sua intersecção com a raça, a classe, a sexualidade, a etnia e outros marcadores sociais.
O ciclo de agosto terá como eixo o Manifesto "Feminismo para os 99% " (2019) escrito por Cinzia Arruza, Nancy Fraser;
e Tithi Bhattacharya ;
O de setembro, o livro de Angela Davis, "Mulheres, raça e classe" (1981).
FEMINISMO PARA 99% _ UM MANIFESTO
Autoras: Cinzia Arruza, Nancy Fraser e Tithi Bhattacharya
Lançado simultaneamente em diversos países no último 8 de março, dia Internacional da Mulher, este Manifesto convoca para um feminismo que sustenta expectativas mais elevadas do que aquelas acalentadas pelo feminismo liberal e corporativo.
O Manifesto parte da distinção entre duas visões antagônicas: numa o feminismo se comporta como serviçal do capitalismo, restringindo-se às aspirações de uma minoria de mulheres e vinculando a igualdade de gênero ao sucesso no mundo dos negócios; a outra visão, com a qual as autoras se identificam, defende um feminismo que faça sentido para a ampla maioria das mulheres nas sociedades capitalistas contemporâneas e seja capaz de acolher as suas diversas demandas.
O feminismo corporativo foca no sucesso de indivíduos, sem se preocupar com quem fica do lado de fora, já o feminismo para os 99% foca na justiça e quer ver os recursos naturais e as riquezas sociais compartilhados por todos.
Haveria uma alternativa? Outra via além dessas visões antagônicas de feminismo?
Para as autoras, o atual estágio do capitalismo nos deixa sem um caminho intermediário viável, pois o neoliberalismo – a fase mais predatória do capitalismo e particularmente perversa para as mulheres pobres – não nos permite ficar em cima do muro: é preciso que as feministas voltem a imaginar “a justiça de gênero em um modelo anticapitalista” capaz de conduzir a uma nova sociedade.
Sem tergiversar, Cinzia Arruza,Nancy Fraser, e Tithi Bhattacharya defendem um feminismo anticapitalista, antirracista, anti-imperialista, ecossocialista, internacionalista, que não pretenda regular a sexualidade e que se sustenta na projeção de um ethos radical e transformador.
Se essa pauta não é meramente utópica e tem ancoramento no real é porque as autoras enxergam na nova onda de ativismo feminista, especialmente no movimento coordenado e nas greves de mulheres que aconteceram em 2017 e 2018, um enorme potencial combativo capaz de alterar o mapa político.
No primeiro módulo do Leituras Feministas, discutiremos as teses do Manifesto à luz do contexto em que foi escrito, das matrizes teóricas e do ativismo das suas autoras.
Mas o que nos move, fundamentalmente, é pensar sobre a sua adequação ou não ao contexto brasileiro atual.
Além de compreender a proposta do feminismo para os 99%, queremos avalia-la a partir da nossa história e das nossas demandas e perguntar se e até que ponto aquele diagnóstico e aquelas propostas dialogam com as realidades brasileiras.
Certamente, o texto tem bastante a nos dizer neste momento em que o Estado se faz cada vez mais ausente (em plena conformidade com o modelo neoliberal discutido pelas autoras), em que o governo federal assume uma agenda radicalmente antissocial e anti-direitos, uma agenda que é também contrária à preservação dos nossas recursos naturais, avessa à proteção das comunidades indígenas, violentamente machista, explicitamente anti-feminista e LGBTQIA+ fóbica.
É preciso admitir que a retração neoliberal do Estado desprotege ainda mais as mulheres pobres e precariza profundamente a reprodução social. Essa crise, sem precedentes, torna urgente a inversão da ordem de prioridades: primeiro as pessoas, depois o lucro. Esta proposta é o cerne anticapitalista do feminismo defendido no Manifesto, e fala de perto com o Brasil.
Por outro lado, cumpre perguntar se a ênfase dada à opressão de classe pelas autoras não descuida da especificidade e da violência de outras formas de opressão; se o fator racial não estaria indevidamente subordinado ao marcador social da classe; se não haveria aí um sonho antigo de que uma vez eliminada a opressão promovida pelo capitalismo, a opressão de gênero e o racismo desapareciam por extensão.
Livros bons suscitam perguntas difíceis e interpretações conflituosas.
Mãos à obra!
A leitura compartilhada e a discussão crítica abrem caminho para uma compreensão mais complexa do mundo. Quiçá também da sua transformação.
Yara Frateschi
Currículo acadêmico:
http://lattes.cnpq.br/1917359676356798
Entrevista recente para o Le Monde Diplomatique sobre mulheres na filosofia:
https://diplomatique.org.br/nos-queremos-nos-juntar-a-eles-entrar-pela-porta-da-frente-e-nao-queremos-mais-que-ninguem-entre-pela-porta-de-tras/?fbclid=IwAR0ba0GoVpE9fQdthfebHnSYqvQps4X5_6eB5Hw3LWacdICBU_bgGGA34zI
Uma edição do Café Filosófico sobre gênero e democracia:
https://www.youtube.com/watch?v=R5Z9srVsCaU
O Manifesto Feminista | por Yara Frateschi _TV Boitempo :
https://www.youtube.com/watch?v=VY52rCKETAk
Turmas às quintas-feiras, das 20h00 ás 23h00
Dias 15 ,22 e 29 de agosto de 2019.
3 encontros de 3 horas num total de 9 horas
1 parcela de R$150,00 (cento e cinquenta reais) no ato da inscrição.
As inscrições estão abertas no Ágora Teatro
pelo site: agorateatro.com.br
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Maiores informações
pelo telefone: (11) 3284-0290 (das 14h30 às 19h00)
whatsapp: (11) 98859-6939 e
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